domingo, 25 de julho de 2010

Nem só de festa é o segundo domingo de maio,
mas também pode ser um tempo de repensar a situação
das mulheres no lar e na sociedade.
(Maria José Resende)
Mães vítimas de violência

Comemorado em quase todo o mundo, o Dia das Mães abre espaço para uma boa oportunidade de homenagear a mulher mais importante do lar. Mas será que as respeitosas manifestações de carinho podem ser observadas também nos demais dias do ano? Na verdade, sabemos que há mães (e avós) que costumam ser esquecidas na cozinha, sempre com “o avental todo sujo de ovo”. Presas a um cotidiano marcado pelo cansaço extremo, há muitas que enfrentam duplas jornadas de trabalho, e, além de providenciarem o sustento da casa, ainda têm as mãos duramente marcadas pelas tarefas do lar, nunca compartilhadas pelos demais membros da família. Não se pode esquecer ainda daquelas que sofrem violência doméstica por parte de maridos ou de filhos e netos.
“A mulher não se fixa no mercado de trabalho e não ganha melhores salários porque é obrigada a se dividir entre a maternidade e os serviços domésticos, enquanto que o homem só se preocupa com o trabalho externo”, diz Hildete Pereira de Melo, professora e pesquisadora da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF). No estudo “Mulher e Trabalho”, ela registrou que menos de 30% dos homens em idade adulta fazem algum tipo de tarefa doméstica. 

No Dia das Mães quase todas as igrejas cristãs apresentam programações especiais para elas. Mas poucas comunidades religiosas abrem oportunidades para discutir a situação de descaso e violência às quais está exposto um número sempre crescente de mulheres.Os relatos de mulheres vitimadas pela violência no Brasil mais que dobraram. Os números foram demonstrados pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.

Durante as comemorações do Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, em novembro de 2008 o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que o mundo deve fazer mais para diminuir a violência infligida às mulheres, e destacou: “Nos países ricos ou pobres, mulheres são agredidas, vítimas do tráfico, estupradas, ou assassinadas. Essas violações dos direitos humanos põem em questionamento o  desenvolvimento, a paz e a segurança de sociedades inteiras.”. 

A mineira feliz
Felizmente, existem exceções no universo das mulheres vítimas de maus-tratos. É o caso, por exemplo, de Marilda Gonçalves da Silva Vieira, que trabalha há 20 anos em uma grande loja de departamentos.
Além da intensa atividade profissional, ela não deixa de dedicar muita atenção aos cargos que ocupa na igreja: nos ministérios com casais, louvor, missões e comunhão. O esposo, Lázaro Marques Vieira, e o filho, Matheus, também fazem parte da Primeira Igreja Batista em São Sebastião do Paraíso, MG. “Saio de casa bem cedinho. No horário do almoço aproveito para levar o Matheus à escola. Volto em seguida para o trabalho e fico até às 18 horas. Participo também dos treinamentos aos domingos e das convenções com a diretoria da loja”, conta Marilda, observando que por necessidade de sua função costuma viajar para os encontros anuais da empresa.
Mas quem disse que ela fica atarefada demais quando se trata do serviço de casa? Os dois cooperadores, Lázaro e Matheus, fazem tudo para ajudar. Ela conta como é a rotina de casa: “Meu filho ajuda a regar as plantas, lava as louças, arruma o seu quarto e lava o banheiro. Lázaro ajuda bastante, e até passa roupas, se for preciso. Além disso, ele sabe fazer uns quitutes deliciosos na cozinha!”. Para as mulheres que estejam se sentindo muito cansadas, Marilda dá a sugestão: “Quando contamos com aajuda do marido ou dos filhos, devemos elogiá-los e incentivá-los, mesmo que o resultado não seja o esperado. E quero destacar que não deixo de orar pelo meu filho e pelo meu esposo para conseguirmos ter mais tempo livre. Costumamos sair para tomar sorvete, comer pizza, ir ao circo e mais uma porção de coisas boas”.
Marilda diz ainda que o ministério de casais pode ajudar consideravelmente a melhorar o relacionamento familiar, e completa: “Quanto a mim, já fiz 10 anos de casada, e graças a Deus meu marido e meu filho me fazem muito feliz!”. 
Um dia de princesa
Além de cuidar do trabalho, da casa e da família, ela é uma das coordenadoras do Projeto Social Semear, da Igreja Metodista Central de São João de Meriti, no Rio de Janeiro. Rita de Cássia Maués de Miranda Lacerda dá aulas às crianças no reforço escolar e ainda encontra um tempo extra para ajudar o esposo, Sérgio Luiz Lacerda, professor do curso de eletricista no Projeto. Mas quando bate o cansaço, Rita não deixa de pedir ajuda ao marido e ao filho, Sérgio Júnior, 21 anos, para “dar uma força” nas tarefas domésticas.
O filho mais velho, Leonardo, 27 anos, é casado com Raquel e os dois têm um filhinho, Douglas Leonardo, de três anos. Quando a família está reunida sobram sempre tarefas da casa para serem compartilhadas por todos. “O Leonardo ajuda muito a esposa porque ele aprendeu isso comigo. Sempre ensinei meus filhos a lavar as louças, cuidar da casa e cozinhar. Eles sabem que não vão perder a masculinidade por isso. Na verdade,eu trabalho muito em casa, mas faço isso por prazer e não por obrigação”, faz questão de destacar Rita.
Quanto à situação da violência contra as mulheres, ela diz: “Penso que se a mulher tiver vontade de verdade ela jamais será maltratada por ninguém. A busca constante de informações e mesmo a volta à escola poderá dar oportunidades de mudança àquela que se encontra sem perspectivas dignas de vida”.
Para concluir, Rita lembra que sempre ajudou a mãe nos serviços de casa, e gostava muito disso. “Quando todos compartilham as tarefas de casa estão demonstrando amor uns aos outros”, assegura.
Ao responder sobre o que gostaria de ganhar no Dia das Mães, ela confessa: “O que toda mulher quer mesmo é ter um dia de princesa”. Em seguida, deu uma gostosa gargalhada, como costuma fazer, cheia de alegria.
Maria José Rezende, RJ
Jornalista

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